quarta-feira, 17 de março de 2010

Convívio.

Ele não sabia os mistérios da vida,nem as artimanhas de sobreviver e as malandragens de ser brasileiro.Não sabia o que não havia aprendido e isso era quase tudo.Nascendo e se criando dentro de paredes grossas,sendo algumas delas dentro de sua própria cabeça e não conseguia se libertar.Estava em desespero e já não comia,bebia,sorria,nem nada mais.Era vegetal sem ser,era humano sem ser.Era vazio.
A dificuldade de relacionar-se com outros e tudo era grande,então se isolava da própria vida e dos outros que fossem cheios dela.Condenado a vagar num quarto mínimo por vontade própria,revelando-se prisioneiro de si e de mais ninguém,jamais havia visto a luz do sol.Estava doente,mas quem ligava?Nunca havia visto nada parecido então se julgava normal.Pobre diabo sem salvação,estava morto,sim,mas não queria simplesmente aceitar.Juntava os fatos e se animava com a medíocridade,a malignidade era intrinseca e o agora e o depois se misturam com facilidade.Ele não sabia ser de outro jeito.
O sol,na verdade era seu sonho mais íntimo.Já havia lido sobre ele há alguns séculos ou minutos,não sabia contar tempo e se apaixonou perdidamente por esta bola de fogo imensa que pairava no céu o dia inteiro,até chegar a noite e acabar com suas esperanças de monstro escondido.A ele não interessava a noite,nem a lua a qual ela iluminava.Mas o sol para ele era vigor e desejo e por isso a admirava cegamente.
Dentro de sua clausura se considerava rei e lá, tudo ele podia e fazia,então ele fingia.Fingia que estava na praia com o sol lhe queimando as costas,fingia que tinha muito dinheiro,poderoso como só ele e seu quartinho era a maior mansão das arábias.Ele não sabia outra coisa,nem mesmo quem era ou qual era sua missão na terra.Só tinha como patrimônio a imaginação e a melancolia,a inocência e a virgindade.Ah, se pudesse sentir o calor de uma mulher...então o fazia!Fingia que possuia a figura que ele acreditava ser ideal para uma personagem feminina, e , em pensamento,se desfazia de tudo que era dor e revirava os olhos de prazer intenso,e gritava,e ela também gritava e o fazia se sentir perfeito,e ele não se via preso,não precisava de nada.
Não era bem verdade.
Ele ainda sonhava com o verdadeiro calor de uma mulher,sentia falta de sua família que ele renegara tanto tempo atrás por razões que não cabem nem um pouco nesta história de confusão e pensamentos escuros e sim em uma mais longa e triste,mas pútrida e com odor de morte que salta das páginas,sendo quase palpável a sua verdadeira face,e a falta do velho convívio com pessoas reais num dia realmente lindo e ensolarado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores

Quem sou eu

Minha foto
Estudante de História e pseudo-escritor semi profissional em ascensão.Quando escrevo,expulso meus maiores medos,um deles é parar de escrever.